Libretos
Radialistas Apaixonadas e Apaixonados
Revisão de textos
Mauricio López e Daniela Andrade
Tradução
Josué Cândido da Silva
Direção
José Ignacio López Vigil
Assistente de Direção
Josué Cândido da Silva
Técnico de Gravação
Danley Rodrigues
Edição e musicalização
Byron Garzón e Adrián Torres
Diretora de Produção
Eliana Albuquerque
Intérpretes
Francisco de Assis (Eli Arruda), Mãe Terra (Larissa Paixão), Irmão Ar (Herlon Novais), Irmãos pássaros (Viviane Paiva e Andreza Mona), Irmão Gelo (Isis Santiago), Irmão Milho (Luis Reis), Irmão Sol (Pablo Brandão), Irmãos peixes (Stela Maria e Thassio Ramos), Irmã Chuva (Isis Santiago), Irmão Ouro (Herlon Novais), Irmão Mar (Eli Arruda), Irmã Soja (Andreza Mona), Irmã Neve (Stela Maria), Irmão Macaco (Josué Cândido da Silva), Macaquinho (Andreza Mona), Irmã Água (Stela Maria), Irmão Coltan (Luis Reis), Irmã Minhoca (Stela Maria), Irmão Petróleo (Thassio Ramos), Irmãs e irmãos (Stela Maria e Thassio Ramos), Árvore (Andressa Santos), Vaca (Viviane Paiva), Onça (Mateus Albuquerque), Arara (Danley Rodrigues), Preguiça (Marcos Paulo Pinheiro), Barqueiro e Felippe (Josué Cândido da Silva), Gringo (Saul Miranda), Dona Pica (Viviane Paiva), Jornalistas (Thaís Motta, Pablo Brandão, Mateus Albuquerque, Igor Batista, Eliana Albuquerque), Cientista (Mateus Albuquerque, Igor Batista, Eliana Albuquerque), Locutora (Fabrine Farias), Locutor (Pablo Brandão), Tradução da Voz do Papa Francisco (George Medeiros).
Uma produção da Rede Eclesial Panamazônica, REPAM e da Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC, Bahia, Brasil, com o apoio de CRS e MISEREOR em sua missão de construir relações justas no mundo e alternativas sustentáveis e dignas de desenvolvimento.
Num encontro improvável, pela distância temporal que os separa, o pobre de Assis regressa à terra em sua realidade atual; uma realidade quebrantada pela dor dos sinais dos tempos que geram desesperança pelo rumo que nosso planeta e nossa sociedade tomaram. Pareceria que estamos tão afastados daquele sonho que Deus mesmo tem para que seus filhos e filhas mais amados tenham “vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Um sonho que no projeto de reino encarnado nos foi expresso como uma opção primeira para os mais pequenos e excluídos. Nesse regresso de São Francisco, seus olhos não podem acreditar como fomos incapazes de escutar os muitos chamados proféticos como o seu, para mudar o rumo e escutar a voz da beleza e da esperança que estão na formosa criação de Deus.
Imaginem a dor de seu coração e como seus olhos se enchem de lágrimas, quando esse Homem da Paz contempla quão longe estamos desse projeto com que ele mesmo sonhou, no qual poderíamos viver em harmonia conosco mesmos, com o próximo e com toda a criação. Um sonho em que nos reconheceríamos irmãos, genuinamente, dos mais pequenos e de cada criatura desta linda criação. Criaturas que nos cantan e falam sobre o maravilhoso que é todo o criado por esse Deus que é Papai e Mamãe.
Nosso personagem, representando São Francisco, regressa para dialogar com todos os seus irmãos e irmãs da criação. Volta para experimentar a indignação de todo o dano realizado sobre nossa casa comum, e para olhar como se pôs em risco de morte o futuro da humanidade e o de tantas espécies de flora e fauna que ele bem sabe que são poemas de Deus e promessa de futuro. Aparece entre nós com seu olhar claro e amoroso para chamar-nos mais uma vez a uma conversão profunda e radical que nos tire deste caminho suicida como humanidade. Vem de volta aos nossos corações para convocar-nos a reconhecer o próprio Deus em toda a criação.
Sem dúvida, isso é a narrativa de uma bela novela, profunda e confrontadora, mas é também o chamado a reconhecer a urgência dessa “conversão ecológica” (LS 216-221) à qual o Papa Francisco nos está convocando e na qual nos pede “em nome de Deus, que defendamos a mãe Terra” (Encontro com Movimentos Populares em Santa Cruz Bolivia. Julho 2015). Essa novela aparentemente improvável, reflete o regalo maravilhoso de uma das Cartas mais importantes de todos os tempos para a humanidade, a Encíclica “Laudato Si’” – Louvado sejas –, sobre o cuidado de nossa casa comum”, do Papa Francisco.
Nela, nosso pastor nos chama a olhar a realidade sem véus e a sentir dor por todo o prejuízo que causamos; também, nos conduz a reconhecer como fomos nós mesmos, como seres humanos, os causadores desta situação pela estreita e limitada visão de “desenvolvimento” predominantemente econômico e acumulador que assumimos como caminho quase único; depois nos convida a reconhecer a rica e fecunda tradição de nossa fé e percurso como povo de Deus, onde há fontes inestimáveis para reconhecer a força desta vocação para o cuidado da casa comum. De fato, é nesse percurso que o próprio Papa realiza esse diálogo com o Pobre de Assis, para reconhecê-lo como o maior inspirador dessa Encíclica e da ineludível missão de todos os crentes e de todas e cada uma das pessoas deste planeta para assumir este cuidado de nossa casa comum. É a graça deste encontro que nos presenteia o Papa na “Laudato Si’”, o que nos convoca a produzir este inspirador material sobre um encontro urgente para nossa realidade entre São Francisco e o Papa Francisco, e lá onde ambos contemplam nossa realidade rompida e esperançosa.
Mas nossa carta inspiradora sobre o cuidado da casa comum vai além, lança as redes em águas mais profundas, já que nos presenteia um novo, recente e confrontador olhar que nos conduz a responder à urgência de buscar mudanças concretas, sem olhadas parciais e fragmentadas como tem sido nossa experiência como Igreja e como sociedade, devido à nossa necessidade de interpretá-lo todo a partir de nossas próprias categorias ou miradas reduzidas. O Papa Francisco nos presenteia a perspectiva sobre a “ecologia integral”, a qual abre uma nova etapa para crentes e pessoas de boa vontade, buscando uma resposta irmanada no reconhecimento de uma missão compartilhada que nos tire dessa rota acelerada para o precipício.
Laudato Si´ nos dá uma visão de “ecologia integral” que passa por uma “conversão ecológica”, e que integra as diversas miradas antes afastadas, para ter uma só voz sobre o cuidado de nosso planeta para as futuras gerações, que reconheça a fragilidade de nosso entorno e a importância de todos os seres criados, e que olhe com especial amor e compromisso os mais frágeis e excluídos, como faria o mesmo Cristo e como fez o pobre de Assis.
A Encíclica culmina com convites concretos que podem, e devem, ser refletidos, rezados e assumidos em todos os âmbitos da vida e em todos os lugares do mundo com uma perspectiva de mudança na vida cotidiana. Como convite a buscar outros caminhos para uma educação no cuidado da criação, e de gestar ações que influenciem nos âmbitos de tomada de decisão, desde o local até o internacional e vice-versa. Um convite a confrontar propositivamente e lucidamente para conseguir uma mudança radical na ação política, e a inspirar-nos com outros modos de olhar o futuro que vão substituindo este sistema que mata e que não dá mais, como o próprio Papa Francisco mencionou em seu encontro com os Movimentos Populares, realizado na Bolívia em 2015. O Papa chama os considerados “pequenos”, porém os primeiros ante os olhos de Deus, para que sejam os que possam também fazer a diferença e contribuir com sua própria capacidade de resistir e propor, e a dispor dessa sua força interior para sobrepor-se às condições mais complexas e sair adiante com alegria e esperança.
Este material foi feito para que essa bela e inspiradora Encíclica não fique longe de seus principais destinatários, esses que talvez ao recebê-la como tal não poderão gozá-la e beber de sua força profunda por causa de seu estilo. Quisemos, simplemente, buscar um linguajar que chegue ao coração da vida das pessoas em sua realidade cotidiana, e que todos possamos entender a gravidade da situação. É um material que quer ressaltar a importância de nossa opção em nossas comunidades e famílias, em nossas organizações e grupos, e em nossa vocação transformadora como crentes e instituições civis que lutam por construir esse outro mundo possível a partir do simples.
Desde a Rede Eclesial Panamazônica (REPAM), anelamos assumir com valentia os chamados que o Papa Francisco nos segue dando, abraçamos a força da rica tradição de nossa Igreja na região, a força da fé de nosso povo, e buscamos projetar-nos a uma maior comunhão para cuidar desta nossa formosa e única casa, sobretudo no marco deste “Ano Jubilar da Misericórdia” para que: “Abramos nossos olhos para olhar as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da dignidade, e nos sintamos provocados a escutar seu grito de auxílio. Nossas mãos apertem suas mãos, acerquemo-los de nós para que sintam o calor de nossa presença, de nossa amizade e da fraternidade. Que seu grito se torne o nosso e juntos possamos romper a barreira da indiferença que costuma reinar satisfeita para esconder a hipocrisia e o egoísmo” (Misericordiae Vultus, nº 15).
Esperamos que se façam muitas cópias deste material e cheguem às mãos de toda a familia, comunidade, paróquia, grupo, organização, instância eclesial, para que sirva simplemente como pretexto para entrar mais no chamado da “Laudato Si’”. Que seja um veículo para assumir o convite de São Francisco de Assis, e oxalá, para também ir afirmando essa conversão ecológica tão urgente nestes tempos.
Agradecemos profundamente a todos os que fazem parte desta Rede Eclesial Panamazônica (REPAM), que facilitaram a possibilidade deste aporte, aos membros da comissão de comunicação, aos apaixonados radialistas que com sua profundade, capacidade e sensibilidade tornaram realidade este materiall, e a tantos generosos colaboradores que nos apoiaram com os meios para isso. O momento mais importante da Encíclica e da humanidade começa agora, quando a discussão pública sobre “Laudato Si’” já não está tão presente nos meios ou espaços eclesiais, quando os fóruns internacionais vão concluindo com promessas que nos preocupam como se tornarão verdade, já que tantas vezes se fracassou no passado. Agora começa o momento crucial de chegar aos corações de todos e todas para fazer a diferença de todos os dias e em todo o lugar, até conseguir essa “conversão ecológica” que seja coerente com uma cultura da vida e a esperança à maneira do reino.
Mauricio López Oropeza
Secretário Executivo da Rede Eclesial Panamazônica
COMO APROVEITAR AO MÁXIMO DESTES PROGRAMAS?
Aqui vão algumas sugestões:
1 - Se você tem tempo, leia toda a encíclica Laudato Si’. É um pouco extensa, mas sua leitura se torna apaixonante e surpreendente. É um texto muito sólido, tanto a nível científico como tecnológico. Ademais, é um texto muito bonito e inspirador.
2 - Se você trabalha numa rádio ou tem amizade com radialistas, ponha estes programas para que a audiência os escute. Podem ser passados de uma vez, podem ser repetidos... Caso queiram cobrar por transmiti-los, não pague! Apele à sensibilidade de quem dirige a emissora.
3 - Se você apresenta um programa de rádio, tem nas mãos um material muito útil que chamará a atenção de sua audiência. Escute primeiro o programa. E, segundo o tema apresentado, investigue um pouco, busque informações na internet, prepare a introdução e o comentário posterior para fazer.
4 - Você pode convidar um especialista sobre o tema e realizar entrevistas depois de escutar o programa. Não tem que ser uma entrevista muito longa. Com 8 ou 10 minutos é o suficiente. E fale ao especialista que use palavras simples, que o público possa entender.
5 – O resultado será melhor se você combinar essa entrevista com a participação da audiência. Através do telefone ou das redes sociais, os ouvintes podem opinar, perguntar, discordar. Também podem contar as experiências de um desastre ambiental no lugar onde vivem e o que estão fazendo para detê-lo.
6 - Também você pode abrir um debate sobre o tema de que trata o programa. Convide duas ou mais pessoas que tenham opiniões diferentes, inclusive contrárias. Que discutam, que deem seus argumentos. E se você quiser esquentar o debate, abra as portas da rádio, da cabine, para que alguns ouvintes estejam presentes e participem com seus pontos de vista.
7 – Você pode fazer concursos com a audiência, por exemplo, se o programa é sobre o irmão Ouro, pode perguntar quantos litros de água se desperdiçam para fabricar um anel de ouro; se hoje é a vez do irmão macaco, pode perguntar sobre as espécies em extinção que têm no seu país. Quem ganhar o concurso poderia levar como prêmio um DVD com os 20 programas da série.
8 – Você pode postar estes programas no site da rádio para que quem entre possa escutar (ou baixar), e também, socializar os programas através das redes sociais para que muitas pessoas conheçam a mensagem ecológica do papa Francisco!
9 - Os programas desta série podem ser aproveitados em cursos com comunidades de base, em colégios etc. As perguntas que se indicam ao final de cada capítulo servirão para orientar a conversação com o grupo. Você pode fazer uma pequena introdução ao programa selecionado e todos escutam. A continuação abre o diálogo. A metodologia do ver-julgar-agir sempre é válida. O objetivo é conhecer o problema, compreender suas causas, propor possíveis soluções e assumir compromissos dos que participam no diálogo.
10 - Que a série possa ser usada de todas as maneiras criativas que venham à mente! O importante é sensibilizar a maior quantidade de irmãos e irmãs sobre a urgência de contribuir para frear a mudança climática! Ainda estamos em tempo!
E que Francisco de Assis, guardião da casa comum e de todas as criaturas, nos abençoe.
Equipe da Rede Eclesial Panamazônica, REPAM.
Capítulo 1
IRMÃ TERRA
FRANCISCO Paz e bem!... Bênçãos, boa onda, energias positivas para quem me escuta. Sou Francisco. Sim, Francisco de Assis. No meu tempo, “Assis” era um pequeno povoado, “Assis” de pequenino... Sem brincadeira, vocês devem estar se perguntando o que eu faço aqui. Bom, disseram-me que há problemas graves em nossa casa comum. Também me disseram que há um Papa que escreveu uma carta sobre tudo isso, um Papa que se chama Francisco, como eu... Ou eu me chamo como ele... Dá na mesma, entre chicos nos entendemos. Pois foi para isso que eu vim, para ver o que está acontecendo com a irmã Mãe Terra e com suas criaturas...
TERRA Psiu!... Psiu!
FRANCISCO Ouço um assobio... Quem me chama?... Quem?
TERRA Sou eu, Francisco. Sua mãe.
FRANCISCO Minha mãe, dona Pica?
TERRA Não, Francisco. A Mãe Terra. A que você chama irmã Mãe Terra.
FRANCISCO Sim, pois é...
TERRA E me alegra que me chame assim, porque você e todos os seres vivos nascem em mim, de mim se alimentam e, quando se corta o fio da vida, a mim retornam.
FRANCISCO Mas você me parece triste, Mãe Terra... o que você tem, o que está acontecendo?
TERRA Lembra, Francisco, quando chegou, caminhando, ao vale de Rieti, na metade da Itália?
FRANCISCO O lugar mais bonito que já vi na vida... Todo verde, exuberante, rodeado de montes com seus cumes nevados... E mananciais cristalinos com água limpa e fresca... Um paraíso, Mãe Terra.
TERRA Eu tinha mil paraísos como esse, Francisco. Minha pele verde cobria países inteiros, continentes. Tinha matas, rios, lagoas, vales esplendidos...
FRANCISCO Por que você diz “tinha”? O que aconteceu, Mãe Terra?
TERRA Você passou muito tempo fora, Francisco. Não viu como os humanos sujaram a casa comum... Não sente o fedor?
FRANCISCO Cheira mal, sim... talvez um animal morto...
TERRA Não, é que perto daqui há um lixão... E mais outro ali... E lá outro... Todas as cidades do mundo estão rodeadas de montanhas de lixo, garrafas, toneladas de plástico... Nem um exército de bactérias poderia limpar tanta sujeira.
FRANCISCO Por que isso acontece, Mãe Terra?
TERRA Por algo que não ocorria no seu tempo, Francisco, e que o teu xará chama “cultura do descarte”.
FRANCISCO Não te entendo. Como?
TERRA Diga-me, Francisco, o que fazia tua mãe quando você sujava as fraudas?
MÃE Lavá-las, pendurar no varal e, esperar que sequem... porque este Chiquinho é muito mijão!
TERRA Agora não. Agora as fraudas são jogadas fora e se compram novas. E o que fazia tua mãe quando os seus sapatos estragavam?
MÃE Mestre sapateiro, trago aqui as botinhas de Chiquinho para que as conserte...
SAPATEIRO Com prazer, dona Pica...
TERRA Agora não. Agora se joga fora e compram sapatos novos. E assim com tudo. Tudo é descartável. Tudo é jogado fora. (FURIOSA) No mundo, nos últimos quarenta anos, jogaram mais lixo em cima de mim que em toda a história da humanidade. Já chega! Eu não aguento mais!
FRANCISCO Não acredito...
TERRA Roupa, papéis, móveis, pneus, televisores, carros, celulares, computadores... Um escândalo! Agora muitos aparelhos são fabricados para quebrar logo e não possam ser consertados.
FRANCISCO Não conheço algumas das coisas que menciona...
TERRA E não só jogam coisas fora. Jogam comida!
FRANCISCO Comida? É por que já não há pessoas com fome?
TERRA Há muita gente com fome! Milhões de crianças vão dormir todas as noites sem um pedaço de pão para matar a fome. Um crime, Francisco! Um terço da comida que se produz no mundo não se come. É jogada no lixo.
FRANCISCO Como é possível que façam isso? O alimento que se descarta é como se o roubassem da mesa do pobre.
TERRA Sobre mim, Francisco, há um punhado de gente que se acha no direito de ter tudo, de comprar tudo, de descartar tudo, e se esquecem de quem não tem nada... Essas são as pessoas da cultura do descarte.
FRANCISCO No meu tempo as coisas eram compradas para a vida toda. Até para a vida dos que viriam depois. Herdávamos os pratos, a roupa, os brinquedos...
TERRA E se te conto outras desgraças... Anda, Francisco, anda e conversa, como você fazia, com os pássaros, com as árvores, com o irmão Sol e a irmã Lua. Fala com eles e compreenderá minha raiva. Por isso, o teu xará, o Papa Francisco escreveu uma carta intitulada Laudato Si.
FRANCISCO Então tomou emprestado o título porque assim começa um cântico que eu compus... Laudato Si, Louvado Sejas, meu Senhor. Posso contar-lhe um segredo, Mãe Terra?
TERRA Conte, Francisco.
FRANCISCO Uma vez cheguei à capela de São Damião... Era uma capela abandonada perto do meu povoado. Eu comecei a rezar. E estava rezando quando senti que Jesus Cristo, me falava lá da cruz...
JESUS Francisco, não está vendo que minha casa vai ruir?... Conserte-a!
TERRA E o que você fez, Francisco?
FRANCISCO Eu fui comprar andaimes, argamassa... Pensei que Deus queria que consertasse a igreja de pedras. Depois entendi que se tratava de pedras vivas, da comunidade. E agora, agora estou entendendo que há que reparar a ti, irmã Mãe Terra. Reparar para que os que venham depois de nós encontrem uma casa limpa e acolhedora.
TERRA Mas ainda há tempo de realizá-lo, Francisco, ainda há tempo!
Diz o Papa Francisco em sua encíclica Laudato Si, Louvado Sejas:
Produzem-se anualmente centenas de milhões de toneladas de resíduos, muitos deles não biodegradáveis: resíduos domésticos e comerciais, detritos de demolições, resíduos clínicos, electrónicos e industriais, resíduos altamente tóxicos e radioactivos. A terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo... Nunca maltratámos e ferimos a nossa casa comum como nos últimos dois séculos. (Laudato Si 21, 53)
E disse o Papa Francisco nas Nações Unidas:
Os mais pobres são os que mais sofrem estes atentados por um tríplice grave motivo: são descartados pela sociedade, são, ao mesmo tempo, obrigados a viver do lixo e devem injustamente sofrer as consequências do abuso do ambiente.
PERGUNTAS PARA O DEBATE
1- No teu bairro e em tua comunidade existe cultura do descarte? Você compra somente o necessário?
2- Você se classificaria como uma pessoa consumista? E a tua família? E teus amigos e amigas?
3- Há fome em teu país? Quem são os responsáveis?