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Capítulo 7 - IRMÃOS PEIXES
Descripción:

A primeira tarefa é pôr a economia a serviço dos povos: os seres humanos e a natureza não devem estar a serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e iniquidade onde o dinheiro reina em lugar de servir. Essa economia mata. Essa economia exclui. Essa economia destrói a Mãe Terra.

Libreto:
FRANCISCO Paz e felicidade para vocês, que me ouvem! Sou Francisco de Assis. Vivi há muitos anos na Itália, quando o mundo era mais tranquilo. Mas agora fui contratado pelo meu xará, o papa Francisco, que também vive na Itália, para conhecer e dar a conhecer os problemas urgentes, muito urgentes, que estão pondo em perigo nossa casa comum. Sabem onde estou? Nas costas de um país chamado Chile... Na beira do mar… Ao sul, bem ao sul, o conhecem como Puerto Montt. Neste cais chegam os barcos dos pescadores. Mas eu quero falar com os pescados... bom, com os que ainda não foram pescados. No meu tempo eu falava com os peixes do lago Trasimeno. Vou me sentar e esperar... Ei!... Este peixe eu não conheço... Vamos ver se salta outra vez... Psiu.. psiu... Aproxime-se e diga-me quem é você...

MERLUZA Sou uma merluza... e você?

FRANCISCO Eu venho de longe... Me chamo Francisco... e estou procurando notícias

do que está acontecendo nestes mares...

MERLUZA Pois eu estou procurando a toda minha família, minha família de merluzas...

FRANCISCO O que aconteceu com a tua família?

MERLUZA Estão dentro daquele barco... está vendo?... Todas foram capturadas, todas morreram. Pescaram a quase todo meu grupo.

FRANCISCO Muitos anzóis teriam esses pescadores...

MERLUZA Não, Francisco. Agora pescam com redes gigantes. Saem ao mar com barcos enormes. Olha aquele que tem uma bandeira vermelha... E aquele outro com a bandeira branca e a bolinha vermelha....

FRANCISCO E o que fazem esses barcos?

MERLUZA As redes que lançam ao mar são tão grandes que arrastam tudo o que encontram. Destroem o fundo do mar, onde crescem as algas. Destroem os recifes de coral… Apanham polvos, enguias, caranguejos, tartarugas, esponjas, ouriços, estrelas do mar... Tudo!

FRANCISCO E tudo isso se come?

MERLUZA Não, só lhes interessam os peixes grandes como nós as merluzas. Os outros os jogam pela borda, os peixes pequenos, todas as criaturas do mar. Umas vivas, a maioria já morta... Pesca de arrasto e descarte, assim a chamam...

FRANCISCO Ah, descarte também no mar. O que disse o Papa…

MERLUZA Os pescadores artesanais estão ficando sem trabalho…

FRANCISCO Irmã merluza… e esse outro que se aproxima, quem é?

MERLUZA Esse é o famoso congro chileno...

CONGRO Posso falar contigo também? Já fiquei sabendo que você se chama Francisco. Pois sim, sou o congro. Comigo você pode fazer um caldo delicioso, de lamber os dedos...

FRANCISCO Também está procurando a tua família?

CONGRO Não, estou procurando comida.

FRANCISCO Você prateada, irmã Merluza, e você dourado, irmão Congro... belas criaturas de Deus... E diga-me, acabou a sua comida em um mar tão imenso como este?

CONGRO Nossas desgraças são grandes, Francisco. Essas redes de arrasto, que disse minha colega a merluza, são assassinas, acabam com tudo... Tiram também a minha comida… Quebram a cadeia...

FRANCISCO De que cadeia você está falando?

CONGRO Em pouco tempo, vocês, os humanos, não terão nem caldo nem caldinho, nem pescada nem pescadinha. O mar vai ficar sem peixes.

MERLUZA Veja bem, Francisco. A vida é como uma cadeia. Cada elo sustenta o elo seguinte e se sustenta no anterior. Se se rompe um elo qualquer, os outros desaparecem.

CONGRO O mar onde nadamos está cheio de umas plantinhas minúsculas... Nem dá para ver… São chamadas de plâncton... São algas pequeninas que comem luz, se alimentam dos raios do Sol.

FRANCISCO O mesmo que fazem as árvores na terra. Isso já me explicaram nas planícies venezuelanas.

MERLUZA Está aprendendo muitas coisas novas, Francisco... Pois acontece que essas plantinhas são comidas pelos animaizinhos maiores. Sobretudo, o krill.

FRANCISCO E esse krill quem é?

CONGRO São uns camarõezinhos pequeninos. Há milhões e milhões. Os peixes grandes os comem, assim como as focas, os pinguins, as gaivotas e as baleias então, os adoram. Posso te contar um segredo?

MERLUZA Esse papa teu amigo que vive em Roma toma todos os dias em seu café da manhã óleo de krill. Por isso tem tanta energia.

FRANCISCO Não me diga? Mas continue, continue com a história da cadeia...

CONGRO Acontece que o krill come algas e os peixes comem krill e os tubarões comem peixes e... se falta um elo nessa cadeia, morrem todos.

FRANCISCO Ah… e são esses barcos malditos que rompem a cadeia, os que acabaram com a tua família, irmã merluza.

CONGRO E há outro problema, Francisco.

FRANCISCO Mais outro?

MERLUZA Que o mar está aquecendo por essa doença da mudança climática.

FRANCISCO Já me falaram dela... e em que ela os afeta, irmãos peixes?

CONGRO É que quando o mar aquece, morrem as pequeninas algas que vivem na superfície, que são as que alimentam o krill que nos alimenta.

MERLUZA E embora sejam tão pequeninas, essas algas são as que limpam o ar do mundo.

JORNALISTA Calcula-se que a metade dos gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global é absorvido pelas algas que vivem na superfície dos mares. Elas convertem o ar poluído em oxigênio limpo.

CONGRO Se as algas morrem já não podem limpar nada… E a água dos mares adoece, se torna ácida...

JORNALISTA Estudos realizados por Jacques Costeau demonstraram que a pesca de arrasto e a poluição fizeram desaparecer 40 por cento das criaturas marinhas. Se isto continuar assim em mais 25 anos não haverá vida nos oceanos.

CONGRO Percebeu quão importante são as pequeninas algas?

FRANCISCO Sim, e vejo que a “cadeia” sempre se rompe no elo mais fraco.… Vocês o que acham, irmãos peixes, ainda temos tempo?



MERLUZA Depende de teus irmãos humanos, Francisco…

CONGRO Se não mudam, o que vão comer? Se não mudam, até teu xará de Roma ficará sem o café da manhã!

Diz o Papa Francisco na encíclica Laudato Si, Louvado Sejas:

A vida nos rios, lagos, mares e oceanos, que nutre grande parte da população mundial, é afectada pela extracção descontrolada dos recursos ictíicos, que provoca drásticas diminuições dalgumas espécies. E no entanto continuam a desenvolver-se modalidades selectivas de pesca, que descartam grande parte das espécies apanhadas. Particularmente ameaçados estão organismos marinhos que não temos em consideração, como certas formas de plâncton que constituem um componente muito importante da cadeia alimentar marinha e de que dependem, em última instância, espécies que se utilizam para a alimentação humana... É preocupante, nalgumas áreas costeiras, o desaparecimento dos ecossistemas constituídos por manguezais... Hoje, muitos dos recifes de coral no mundo já são estéreis ou encontram-se num estado contínuo de declínio: Quem transformou o maravilhoso mundo marinho em cemitérios subaquáticos despojados de vida e de cor? (Laudato Si 40, 39, 41)

E disse o Papa Francisco no Encontro com os Movimentos Populares na Bolívia:

A primeira tarefa é pôr a economia a serviço dos povos: os seres humanos e a natureza não devem estar a serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e iniquidade onde o dinheiro reina em lugar de servir. Essa economia mata. Essa economia exclui. Essa economia destrói a Mãe Terra.



PERGUNTAS PARA O DEBATE

1- Que tipos de peixes se comem no lugar onde você vive? Sabe com que métodos os pescam?

2- Em seu país há leis que regulam a pesca de arrasto ou o uso de dinamite na pesca?

3- Onde começa a cadeia alimentar do que você come? Que elos ela tem?


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