LOC1_ (toc toc toc) Vamos pedir licença e conversar com a galera da Rádio Universitária FM. A emissora já tem mais de 20 anos de história. Quando foi inaugurada na década de 80, o país estava com as orelhas voltadas para a música estrangeira. Daí, a Radio universitária tinha mais um desafio... Mas chega de lenga lenga, vamos ouvir nosso amigo da Radio Universitária, o Bruno Lima.
Sonora 01
LOC 2_ A programação da Universitária FM é feita pelos alunos, pelos professores... não é isso Bruno?
Sonora 02
LOC1_ Falando nisso, Bruno nos contou que a rádio tem atualmente uma preocupação em saber das necessidades e da satisfação do público. A equipe realizou pesquisas com ouvintes de dentro da universidade, e pretende pesquisar também o público em geral.
LOC2_ Você deve estar se perguntando quem apóia a rádio universitária! É recurso da própria faculdade, de publicidade institucional, e mais da fundação cearense de pesquisa e cultura.
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LOC1: Saindo do Nordeste e atravessando o Brasil, chegamos ao Rio Grande do Sul para falar um pouco sobre o passado. Dagmar Camargo, coordenadora política da Amarc, contou uma história de família que ocorreu na década de 1920, em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Acabamos descobrindo que o fechamento de rádios pelo Governo é uma prática antiga no nosso país...
LOC2: Isso mesmo, desde a década de 1920! Dagmar conseguiu, recentemente, recuperar o rádio receptor construído por seu avô em 1929. Frederico Carlos Dreher, que era alemão naturalizado, construiu um dos primeiros rádios no Brasil. E o aparelho motivou a perseguição dele pela polícia política da ditadura Vargas.
LOC1: Frederico foi preso injustamente, suspeito de participar da quinta coluna. Ou seja: foi acusado de ser um nazista. Os oficiais destruíram a oficina de Frederico e levaram todos os livros e o rádio. Provavelmente confundiram o aparelho com um transmissor.
LOC 2: Dagmar conta que o interesse do avô por rádios começou ainda na Alemanha, onde fez um curso de eletrotécnico em 1915. No Brasil, foi um dos precursores da construção de rádios.
LOC1: Jaime Freitague, um ex-vizinho da família, tornou-se radialista por influência de Frederico. Ele encontrou o aparelho num ferro-velho na Vila Vera Cruz, próximo ao Exército, em Passo Fundo. E levou para a rádio Planalto, onde trabalhava na época. Foi lá que Dagmar por coincidência viu o equipamento.
LOC 2: Ela escreveu uma carta para a fundação explicando a situação e solicitando a devolução do equipamento, por ser um objeto de grande valor afetivo para a família. E conseguiu recuperar não só o rádio, mas um pouco da trajetória e do contexto da criação dos meios radiofônicos no Brasil.
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LOC 1: É... 80 anos se passaram, e o fechamento de rádios continua. No mês de novembro, a repressão às comunitárias do Rio Grande do Sul se intensificou. Na semana do dia da Consciência Negra, 20 de novembro, duas emissoras foram fechadas no município de São Martinho, região central do estado.
LOC 2: Uma outra emissora fechada pela polícia Federal e pela Anatel foi a Santa Isabel FM, que fica no município de Viamão, do Rio Grande do Sul. Conversamos com Bruno Rocha, um dos coordenadores da Abraço do estado. Ele também é um dos dos participantes da rádio Santa Isabel FM, com o programa Mateando com a resistência.
Bruno conta como no dia 24 de novembro dois agentes da Anatel, uma delegada e dois policiais federais fecharam a emissora. A rádio tinha sede no bairro de Santa Isabel e funcionava na frequência 91,7 FM.
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É... parecia que tudo estava certo após a polícia deixar o local. Mas sem querer, alguns seminaristas estrangeiros, que não entendiam o que se passava, acabaram abrindo a porta para a polícia. Mesmo tendo a passagem permitida após o mal entendido, ainda existem irregularidades no caso.
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Conversamos também com Celso Brôda, presidente da rádio Santa Isabel FM. Ele contou que acompanha a rádio desde a sua fundação, em 2003. Disse também que a emissora tem respaldo junto à comunidade, já que os moradores do bairro são os responsáveis pela maioria dos programas.
Celso explicou que toda a programação da rádio é voltada para as associações comunitárias do município, para os movimentos sindicalistas, as bandas e os esportes locais. Em novembro foi lançado o livro Raízes de Viamão, que recupera a história do município, e conta alguns casos antigos de repressão à Santa Isabel FM.
Hoje a emissora está silenciosa, ocupando um lugar na imensa fila de espera para que consiga voltar a funcionar e colocar no ar a voz da comunidade. Mas não é só ela... Clementino Lopes, coordenador executivo da Abraço do Rio Grande do Sul, contou que nos últimos dias a repressão tem aumentado no estado. Ele falou sobre as dificuldades de se vencer o monopólio da comunicação e a facilidade de liberação de outorgas para rádios que se dizem comunitárias, mas não são.
Ele comentou também a postura do governo de não assumir a Conferência Nacional de Comunicação, defendida pelos movimentos sociais.
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Para os defensores da comunicação livre e de uma sociedade mais justa, a Conferência é essencial para repensar o monopólio da mídia.
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E por falar em repensar o monopólio das concessões de canais midiáticos no país, no dia 2 de dezembro foi realizado, em Brasília, o primeiro encontro Preparatório para a Conferência Nacional de Comunicação.
Desde 2003, 48 conferências nacionais foram realizadas em vários campos. Elas servem como um espaço amplo de reflexão e formulação de novas propostas para os diversos setores. O movimento pela democratização da mídia entende que está na hora de repensar o modelo de comunicação que nós temos no Brasil, e principalmente o que queremos.
Dentre as resoluções divulgadas do encontro, está a previsão de que o Governo convoque a Conferência nacional para os dias 3, 4 e 5 de novembro de 2009, em Brasília. Antes estão previstas as etapas municipais ou regionais, que devem propor debates temáticas e ocorrer até o dia 20 de maio do próximo ano.
Já as conferencias estaduais devem ser realizadas de 1° de junho a 14 de agosto. Elas terão caráter deliberativo, de escolha de delegados e formulação de propostas a serem levadas para a etapa nacional.
Um dos objetivos do encontro nacional será propor diretrizes para a nova regulação das políticas publicas de comunicação. A Conferência tratará a comunicação como um direito humano.
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E por falar em uma outra comunicação possível, em novembro foi realizado no Rio de Janeiro o Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação. O Núcleo é formado por um grupo de jornalistas, professores, militantes sindicais e de movimentos sociais que encaram a comunicação como estratégica para defender os interesses dos setores populares.
Pensando em aperfeiçoar a comunicação alternativa, o núcleo promove oficinas ligadas à história dos trabalhadores e à área da comunicação sindical e popular. Um desses momentos de formação e articulação é exatamente o curso anual. A 14ª edição ocorreu entre os dias 19 e 23 de novembro, no Rio de Janeiro.
O tema deste ano foi a importância de uma mídia em defesa dos trabalhadores. Para discutir o assunto, foram convidados jornalistas sindicais, da mídia alternativa, representantes de movimentos sociais e engajados por uma comunicação livre. Um dos palestrantes foi Dioclécio Luz, militante incansável pela radiodifusão comunitária.
Dioclécio criticou o atual modelo de comunicação, que seria unidirecional. Ou seja: não permite a interlocução. Para ele, o ideal de uma rádio comunitária é dar espaço e voz para todo mundo. A existência de um Conselho impediria que um certo grupo direcionasse a programação de acordo com seus interesses.
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Ele lembrou ainda os aspectos da lei de radiodifusão comunitária, que completou dez anos em 2008, e que, na verdade, impõe limitações ao funcionamento das rádios. Lembrou ainda os motivos para que as mudanças não ocorram...
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