Tec: toca sinal do recreio/ som de vozes no pátio/
Loc2: Na sala dos professores...
Loc1: Amanda, você soube do que aconteceu outro dia aqui na escola?
Loc2: Não, me conta...
Loc1: Sabe o André, aquele da turma 501?
Loc2: O que ele aprontou dessa vez?
Loc1: Você não vai acreditar... A Sandra, professora de português, estava dando aula. Entrou um funcionário para fazer entrega de livros e foi alvo de piadas e risos pelo fato de ser negro. Ficou todo sem jeito,um constrangimento só...
Loc2: E aí?
Loc1: O mais estranho, foi que o André começou a bagunça. Logo ele, que é negro também... Ninguém entendeu nada.
Loc2: Nossa... A Sandra deve ter cortado um dobrado na sala de aula. E como ficou tudo?
Loc1: As outras crianças fizeram uma bagunça só, foi difícil conter o falatório. Começaram a insultar o funcionário. Uma até falou: Bem que minha mãe diz que todo negro é racista...
Loc2: Acho que a Sandra poderia tirar proveito desse fato. Ela podia promover um debate com os alunos e falar sobre preconceito e discriminação. Quem sabe eles não passam a olhar essa história de outra forma?
Loc: Gostei da ideia! Vou dar essa sugestão pra ela.
Tec: Efeito
Loc: A história que você acabou de ouvir não é brincadeira. Aconteceu realmente e faz a gente pensar...
Loc.: A professora de língua portuguesa, Clarisse de Freitas, vivenciou um fato parecido. E afirma que esse tipo de atitude ocorre porque essa criança não se identifica como negra.
Sonora_Clarisse_01: Isso me trouxe a uma realidade única. Ela não se encontrou alí. Ela não se percebeu. Ela acha que a sua etnia é inferior a outras, por isso ela riu.
LOC: Clarisse, que trabalha há cerca de cinco anos com a promoção da Igualdade Racial, diz que essa dificuldade de pertencimento e consciência do aluno é causada por décadas de silêncio nas escolas brasileiras. A importância histórica das matrizes africanas em nossa cultura é ignorada, assim como o papel do negro na biografia do mundo.
Loc: Segundo, a Lei 10.639, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), criada em 2003, o ensino de história e cultura afro-brasileira passou a ser obrigatório em todos os níveis de formação.
Loc: A idéia da legislação é transformar os brasileiros, desde bem cedo, em povos mais conhecedores de suas origens. E, com isso, derrubar obstáculos culturais que, muitas vezes, impendem uma aproximação real entre brasileiros e africanos. Na prática, no entanto, a aplicação da lei tem sido feita de forma isolada e precária em muitas escolas.
Loc.: Para além das escolas, Clarisse ressalta o papel da mídia nesse processo. Pois os negros não são bem representados nos veículos de mídia, como a TV, o rádio, ou na publicidade, por exemplo. E por não se encontrarem nesse espaço não se reconhecem enquanto cidadãos.
Sonora_Clarisse_02: É um fator histórico essa questão de baixa estima e não valorização. Mas como a mídia e, talvez, a tv é um dos veículos mais assistidos por nossas crianças então atribuo sim uma parcela dessa culpa a tv, a mídia, ao meio de publicidade. Por que ela não apresenta o negro no seu verdadeiro papel. Como ele verdadeiramente é. A sua cultura, a sua história, o seu papel para a valorização do seu país, para esse país ser o que ele é hoje. +++ Quando as crianças se conscientizarem de que ela é uma afro-descendente, valorizar a cor negra elas vão crescer pessoas conscientes e nós vamos ter um país melhor onde não falaremos mais de preconceito, não falaremos mais de discriminação sabendo de que somos todos iguais.