Técnica_chamando telefone
Entrevista _Rafael Leão Flor
Técnica: Telefone foi desligado
Loc1: Este que você acabou de ouvir é o Rafael Leão Flor, de 11 anos. Ele é uma das milhares de crianças brasileiras que tem como um dos passatempos preferidos assistir televisão. (PIANO DO DANONINHO) De acordo com o estudo "Kids Power", da TNS, 83% das crianças brasileiras são influenciadas pela publicidade.
LOC2: Rafael sabe tudo que passa na telinha. Na opinião dele, propaganda também é informação. O problema é que ele ainda não tem idade suficiente para saber o quanto as informações das propagandas mudam sua vida. E não pode se defender destas influências.
LOC1: Várias entidades brasileiras têm se preocupado com este assunto. Prova disso foi o encaminhamento e aprovação de diretrizes proibindo a publicidade dirigida às crianças na I Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro.
LOC2: A advogada Tamara Gonçalves, do Instituto Alana, explica que artigos no código de defesa do consumidor determinam que os consumidores devem saber o que é propaganda e o que não é. Mas as crianças ainda não entendem isso. Além do mais, outro artigo diz que é ilegal a publicidade abusar da inocência das crianças. Contudo, falta legislação estabelecendo o que é publicidade infantil e criando um orgão independente para punir os abusos. Tamara Gonçalves, do Instituto Alana, fala das demandas da sociedade nesta área.
SONORA TAMARA
LOC 1: Segundo Tamara, enquanto no Brasil as crianças estão completamente sujeitas às propagandas, em outros países há leis que regulamentam esta publicidade. Na Suécia, por exemplo, é proibida propaganda para qualquer criança menor de 12 anos. Outros países preocupam-se com as anúncios de alimentos com muito sal, açúcar e gordura. Esse tipo de comida gera problemas de saúde, especialmente de quem está crescendo.
Loc2: Só que é difícil restringir propagandas na TV, revistas e outros veículos de comunicação. Afinal, os donos destes veículos, as agências de publicidade e os fabricantes de produtos têm medo de ver seus lucros diminuindo e fazem pressão sobre os políticos. Para se ter uma idéia, uma pesquisa do IBOPE Mídia mostrou que em 2006 o mercado de publicidade para crianças movimentou cerca de R$ 39 bilhões.
Loc1: A psicóloga Clara Goldman, do Conselho Federal de Psicologia, lembra que a publicidade destinada às crianças acaba influindo na rotina de todas as famílias. Pesquisas indicam que Cerca de 80% das decisões de compras familiares são influenciadas pela opinião das crianças. Sejam elas mais pobres, de classe média ou ricas.
Loc2: Clara diz que a criança que não tem dinheiro para comprar certo produto pode até ficar traumatizada, mas que isso não é tudo. Devemos ir além.
Loc2: Ela aponta que ao serem seduzidas pelas propagandas e se desdobrarem para comprar tudo que está na moda, as famílias acabam assumindo valores de uma cultura do ter e não do ser. Para a psicóloga esta é uma escala de valores alienada, que não contribui com a autonomia de ninguém.
LOC2: Agora, enquanto segue a luta pela regulamentação da publicidade infantil, pedimos para Clara Goldman falasse para os pais o que fazer diante do bombardeio da publicidade sobre as crianças:
SONORA:
LOC1: Para se informar mais sobre este assunto, acesse a página www.criancaeconsumo.org.br . E se você também acha que propagandas destinadas às crianças deviam ser proibidas, assine o manifesto em www.publicidadeinfantilnao.org.br.
Loc2: E entre na luta pela democratização da comunicação. O controle social da mídia foi um dos temas da Conferência Nacional de Comunicação. E quando falamos em controle não estamos falando de censura. Pelo contrário, queremos que a sociedade possa opinar sobre o que quer ver o que o não quer ver nos meios de comunicação.