LOC2: Afinal, sem comunicação entre as pessoas, não há possibilidade de nos reconhecermos nas diferenças de nosso semelhante humano, e repeitá-las. Sem comunicação entre as pessoas, não temos acesso à variedade de idéias e corremos o risco de acreditar que nossa verdade é mais verdadeira que a do outro. E a intolerância nasce... do silêncio.
(TÉCNICA - BG SE CALA)
LOC1: Mas hoje é diferente! (BG DE SAMBA) A liberdade de expressão é um direito humano conquistado pela sociedade e garantido pela lei do estado. Todos podem falar! Todos podem ouvir! Todos tem espaço para reclamar, denunciar, opinar, sugerir... (TÉCNICA - DISCO ARRANHANDO) Será?
(BG NORMAL)
LOC2: Os meios de comunicação de massa, com imenso poder de irradiação ideológica em jornais, estações de rádio e televisão, acabaram por impor um novo tipo de censura ditada pelo interesse financeiro. Assim, o que não garante lucro aos proprietários desses meios não tem espaço... e ninguém escuta! Enquanto todos os setores da sociedade não tiverem voz em igualdade de condições, não há democracia.
LOC1: É por isso que a luta pela democratização das comunicações continua avançando para romper barreiras em direção à liberdade de expressão. Neste contexto, foi realizado o I Fórum de Mídia Livre, entre os dias 14 e 15 de junho, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Uma das organizadoras do evento, a diretora de comunicação da Universidade, Ivana Bentes, explica a proposta do encontro.
SONORA IVANA 1
LOC2: Mais de 300 pessoas participaram do evento, que reuniu estudantes, professores, jornalistas, comunicadores populares, militantes pela democracia nos meios de comunicação e mais um monte de gente interessada no tema.
LOC1: Logo na cerimônia de abertura já dava pra perceber alguma coisa de diferente no clima do encontro. Apesar de amplo, o salão de recepção da UFRJ não tinha cadeiras para todos. Mas logo logo, a organização resolveu a questão: sugeriu a ocupação de um espaço situado por trás da mesa dos debatedores, onde cadeiras pomposas de madeira nobre, acolchoadas em veludo vermelho, continuavam vazias. Aos poucos, o receio dos que ainda estavam em pé no salão principal se desfez entre risos enquanto todos se acomodavam.
LOC2: Se o sentido da comunicação é, definitavemente, tornar comum, uma verdadeira comunidade se instalou no espaço. Quem quisesse, poderia acompanhar a cerimônia no telão armado no salão anexo e mesmo quem não estava lá de corpo presente poderia acompanhar pela internet a transmissão ao vivo.
LOC1: A mesa foi composta por integrantes da coordenação nacional do Fórum de Mídia Livre. Além de Ivana Bentes, estavam lá Joaquim Palhares, diretor da agência carta maior; Gustavo Gindre, membro do comitê gestor da internet do brasil e do Coletivo Intervozes; Renato Rovais, editor da Revista Fórum; Paulo Salvador, editor da Revista Brasil e Dario Pignatti, jornalista dos alternativos Página 12 (argentina) e La Jornada (méxico).
LOC2: Logo após as falas iniciais, o microfone foi aberto aos participantes. A liberdade era tanta que um deles, inclusive, questionou o próprio nome do encontro, dizendo que "livre" era a mídia praticada pelas grandes corporações! Contradições à parte, tão caras à manutenção da liberdade, durante a tarde foram iniciados os grupos de trabalho.
LOC1: Foram cinco os temas propostos para discussão: Democratização da Publicidade Pública e dos Espaços na Mídia Pública; Políticas Públicas de Fortalecimento da Mídia Livre; Fazedores de Mídia; Formação para Mídia Livre e Mídias Colaborativas, Novas Mídias.
LOC2: Em todas as salas, a intenção era estimular uma discussão sem instâncias de autoridade ou hierarquia, em que os participantes usassem o próprio bom-senso para uma boa conversa sobre os assuntos de comum interesse.
LOC1: Em uma destas salas, estava o motoboy paulista Clayton Terroni, convidado para apresentar o projeto que participava. Ele integra um grupo de 12 motoboys que cruza as ruas de São Paulo atualizando o site www.zexe.net/saopaulo com fotografias enviadas por celular. O processo é instantâneo e, muitas vezes, eles são os primeiros a fazer o registro de acidentes. Mas vamos deixar que o próprio Clayton explique seu trabalho.
SONORA CLAYTON
LOC2: À noite, uma apresentação do cantor Fred Zero Quatro e o grupo de performance poético-musical Sol na Garganta do Futuro encerrou o primeiro dia do evento com chave-de-ouro.
LOC1: No segundo dia, pela manhã, foram encaminhadas as propostas tiradas nos Grupos de Trabalho que compunham o documento final do encontro. À tarde, foram realizadas 20 oficinas que, apesar da diversidade de temas, convergiam para uma mesma proposta: uma mídia livre precisa de uma mente livre!
LOC2: A Oficina do Estúdio Garganta, em que a banda Sol na Garganta do Futuro convidou os midialivristas a participar do processo de gravação do grupo. Quem quisesse declamar um poema, declamava; quem quisesse tocar, tocava; e havia quem quisesse só assistir também. O grupo capixaba foi criado em outubro de 2001 e já passou por várias formações. A música tocando ao fundo desta locução é deles... escute um trecho.
SONORA: BG POÉTICO DO SOL
LOC1: Não à toa, o grupo foi escolhido para compor a programação musical do encontro. Fabrício Noronha, integrante fundador da trupe, avalia a relação entre o perfil da banda e o Fórum de Mídia Livre.
SONORA FABRÍCIO
LOC2: A oficina do Sol na Garganta do Futuro se encerrou na voz grave do show da cantora Ava Rocha, última atividade realizada no evento. A professora Ivana Bentes, que prestigiou a apresentação, destaca a importância da realização deste Fórum.
SONORA IVANA 2
LOC1: Vale lembrar que os estudantes de comunicação da UFRJ realizaram a cobertura completa do encontro, disponível no site www.tj.ufrj.br. E atenção. O II Fórum de Mídia Livre já está sendo discutido e deve ser realizado no Espírito Santo no ano que vem.