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MÓDULO 03 - RADIARTE
Descripción:

Encerramos a 21ª Radiorevista Comunidade em Rede com uma adaptação do conto Peru de Natal, de Mário de Andrade, no Radiarte .

Libreto:
Narrador: Não quero parecer um monstro insensível mas posso dizer que nosso primeiro Natal de família, realmente feliz, se deu 5 meses depois da morte de meu pai. Papai era boa pessoa, porém muito acinzentado, de alegria comedida, ou melhor, com medida. Sempre muito contrário aos pequenos prazeres da vida, como beber um bom vinho, fazer uma viagem, essas coisas que alegram a alma.

Então já viu, ceia de Natal pro meu pai, se limitava a comer figos, passas e castanhas depois da Missa do Galo. Até que eu, a ovelha negra da família, ousei mesmo no luto, sugerir mais uma loucura minha:

LOC1: Bom, no Natal, quero comer peru.

Técnica: Barulho que represente o espanto da família.

LOC2: Não podemos convidar ninguém querido, estamos de luto...

LOC1: Mas quem falou de convidar ninguém! essa mania... Quando é que a gente já comeu peru em nossa vida! Peru aqui em casa é prato de festa, vem toda essa parentada do diabo...

LOC3: Meu filho, não fale assim...

LOC1:Pois falo, pronto!

Narrador: Era sempre aquilo: vinha aniversário de alguém e só então faziam peru naquela casa. Peru era prato de festa: uma imundície de parentes já preparados pela tradição, invadiam a casa por causa do peru, das empadinhas e dos doces. Minhas três mães, três dias antes já não sabiam da vida senão trabalhar, trabalhar no preparo dessa comida toda, a parentagem devorava tudo e ainda levava embrulhinhos pros que não tinham podido vir. As minhas três mães mal podiam de exaustas. Do peru, só no enterro dos ossos, no dia seguinte, é que mamãe com titia ainda provavam um naco de perna, vago, escuro, perdido no arroz. E isso mesmo era mamãe quem servia, catava tudo pro velho e pros filhos. Na verdade ninguém sabia de fato o que era peru em nossa casa: peru, resto de festa.

LOC1: Ah vamos, e nada de mesquinharia: duas farofas: a gorda com miúdos e a seca douradinha! E é claro cerveja bem gelada! Que eu sei que a senhora gosta mamãe...

LOC3: Meu filho... imagina, que isso...

LOC4: É louco mesmo...mas é um sobrinho querido.

Narrador: E esse foi o consentimento da família. Disfarçado e nada assumido. O fato é que compramos o peru, cozinhamos o peru, só nós cinco: eu, mamãe, minha tia e meus irmãos.

Técnica : Barulho de talheres, uma musica natalina nos fundos, agitação.

LOC1: Mamãe, lá vai a senhora fazer economia na hora de cortar esse Peru. Não senhora, corte inteiro, eu dou conta disso tudo sozinho.

LOC2: Mas e seus irmãos Juca...

LOC1: Vai ter pra todo mundo, capricha aí nesse prato.

LOC2: Meu filho....tá aqui mas...

LOC1: Toma mamãe . É seu....

Narrador: Mamãe, por um segundo, expressou seu olhar desentendido. Pobre, sempre tão acostumada a servir os outros... ela, que sempre segurou minha barra, acobertava de papai minhas saídas noturnas, as festas, as aventuras com Rose....! Ela sem dúvida merecia o maior pedaço...

LOC1: Toma tia, esse prato aqui é da senhora...

Narrador: Sim. Aquela abundancia de comida no prato da minha família, gerara uma sessão de choro, emocionados com o Natal que nunca tinham tido, dos quais sempre foram privados, tudo por causa dos limites de papai. Esse, que mesmo morto, (Deus o tenha!) parecia vir mais uma vez estragar nosso Natal. É que o pranto evocara por associação a imagem indesejável de meu pai morto. Meu pai, com sua figura cinzenta, vinha pra sempre estragar nosso Natal, fiquei danado. Até que o defunto foi evocado para acabar com a alegria da festa:

LOC2: Só falta seu pai...

Narrador: Foi aí que me veio uma luz, e eu decidi que para salvar a festa, seria hipócrita. Queria apenas tirar a culpa das costas de minha família, tão pequeno burguesa, tão cheia de privações. Naquele instante que hoje me parece decisivo da nossa família, tomei aparentemente o partido de meu pai. Fingi, triste:

LOC1: É mesmo... Mas papai, que queria tanto bem a gente, que morreu de tanto trabalhar pra nós, papai lá no céu há de estar contente... contente de ver nós todos reunidos em família.

LOC2: Vocês, meus filhos, nunca poderão pagar o que devem a seu pai, um verdadeiro santo.

Narrador: Pronto, papai virara santo, figura abstrata e distante que não poderia incomodar mais ninguém. E aos poucos pude perceber os sorrisos brotando novamente, sorrisos fatigados de tanto comer, te tanto permitirem-se sentirem o sabor. Nasceu então uma felicidade familiar pra nós que, não sendo exclusivista, alguns a terão assim grande, porém mais intensa que a nossa me é impossível conceber. Não era o fato de esbanjarmos... era a sensação de vermos uns aos outros satisfeitos. A tamanha falta de egoísmo me transportara o nosso infinito amor...

LOC3: Ai ai, vou arrumar essa louça e vou me deitar, já está tarde....

LOC4: Eu também, dá licença... (suspirando)

LOC1: Pessoal dá licença mas agora vou na festa de um amigo que me convidou, não posso fazer desfeita né....

Narrador: Pisquei pra mamãe, minha cúmplice, pois no fundo só ela sabia que na verdade ia me encontrar com a Rose, que me esperava com uma garrafa de champanha...

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