SONORA: PAULA ALMEIDA 1
LOC2: Paula explica que os grupos interessados em fazer agroecologia enfrentam alguns obstáculos, desde a chamada Revolução Verde, nas décadas de 60 e 70. Nesse período, alguns países menos desenvolvidos aumentaram sua produção agrícola com a industrialização. Nesse contexto, o saber tradicional acabou sendo substituído pela mecanização das técnicas e pelo intenso uso de insumos e agrotóxicos.
LOC1: Há também um apelo muito grande por parte do agronegócio para que os trabalhadores rurais adotem o modo de produção agroquímico. De acordo com Paula, além dos agrotóxicos, as empresas insistem na utilização de alimentos transgênicos.
LOC2: Pessoas que trabalham com agroecologia defendem que os transgenicos colocam em risco a segurança alimentar. Paula explica que, além da incerteza quanto ao efeito na saúde humana, trazem o risco de contaminação para outras sementes, se forem plantados perto de outras lavouras.
LOC1: Muitas empresas ligadas ao agronegócio defendem que a utilização de agrotóxicos e insumos garante maior produtividade. Paula acredita que essa questão deve ser analisada como um todo.
SONORA: PAULA ALMEIDA
LOC2: Contrários a essa forma de intervir no meio-ambiente, alguns grupos de trabalhadores rurais se unem a pesquisadores e fazem brotar os frutos de seus saberes. Nascem daí os bancos de sementes. O hábito de guardar as sementes em bancos familiares é milenar. Com os riscos de perder algumas sementes, surge a alternativa de preservá-las em espaços comunitários. Emanoel Dias, engenheiro agrônomo, trabalha com essas sementes na Paraíba, apelidadas Sementes da Paixão. Ele explica como funciona um banco.
SONORA: EMANUEL DIAS
LOC2: Mas a tarefa ainda é mais complicada. As chamadas sementes crioulas, que são as sementes tradicionais preservadas nos bancos, ainda tem que enfrentar a concorrência com as industriais, produzidas por empresas transnacionais.
LOC1: Ao dar a patente para as sementes produzidas pelas grandes empresas, a legislação brasileira pode ser uma ameaça a autonomia dos pequenos agricultores. Paula e Emanoel explicam que essas leis tendem a diminuir o acesso dos agricultores às sementes, para torná-los mercado consumidor delas mesmas. Um exemplo disso é a Lei de cultivares. Essa lei obriga o agricultor a pagar royalties não só sobre a utilização das sementes patenteadas pelas empresas como também sobre a comercialização da produção advinda de seu cultivo.
LOC2: Outro tipo de iniciativa agroecológica é a preservação e a utilização de plantas medicinais. A Articulação Pacari, por exemplo, trabalha pela preservação do cerrado junto do resgate da cultura popular. Dalci José de Carvalho, integrante da Articulação, explica um pouco sobre o trabalho de conscientização para valorizar esse saber tradicional.
SONORA: DALCI DE CARVALHO
LOC2: Outro exemplo é o da comunidade de Aldeia Velha, um lugarejo cercado por mata e rios no Estado do Rio. Lá, universitários decidiram se unir à população local, e criaram a Escola da Mata Atlântica.
LOC1: Tadzia Maia, coordenadora de comunicação da escola, conta que o projeto é uma ação agroecologica. La, além da criação de um banco de sementes, também luta-se pela produção de cultura livre e pela utilização de plantas medicinais. Mas o diferencial desse banco é que em breve irá incluir também um laboratório de informática com softwares livres. Agroecologia e Software Livre? E o que esses dois elementos aparentemente tão diferentes tem comum? Tadzia explica.
SONORA: TADZIA
LOC2: Tadzia conta que, desde a criação do banco, o interesse da população cresceu em torno da busca e troca por novas sementes. Quer semear um pouco de agroecologia em seu próprio lar? Qualquer pessoa pode ter um banco de sementes em casa, crie o seu.