Todo dia, .... Filhos da mesma agonia
LOC1: O Rio de Janeiro é foco dos noticiários que o Brasil inteiro vê. Das novelas que o Brasil inteiro vê. Dos jornais que todo mundo lê.
LOC2: E assunto que não para de aparecer é a violência. Mas é raro que seja ouvida a voz de quem perde vizinhos para a opressão rotineira.
LOC1: Conversamos com uma moradora da Maré, Maria. Este não é o nome dela, mas isso importante menos quando a pena pela revelação pode ser de morte. É a voz de uma moradora do complexo de favelas da Maré, na zona norte carioca. Foi lá que ela nasceu e vive há mais de vinte anos. É por aquelas ruas, becos e vielas que a moça construiu laços de amizade com a vizinhança e viu a família crescer. Mas em meio ao conflito memórias são apagadas.
SONORA 1:
LOC2: Maria teve que abandonar a própria casa por medo dos tiroteios frequentes há 5 meses. Mas a mídia comercial não falou da guerra entre facções criminosas e polícia depois dos primeiros 15 dias, quando o saldo de mortos era de cerca de 19. Rotina, como ela conta, não existe nestes tempos:
SONORA 2:
LOC1: Mas a dor de ver adultos e crianças assassinados nos confrontos é maior para quem mora na favela e se encomoda com a visão de quem vem de fora. Maria por exemplo. Ela sempre questiona o que vê no jornal e o comportamento de repórteres dentro da Maré.
LOC2: É que cada dia fica mais comum dizer que alguém, mesmo tendo sido uma criança, foi morto pelo polícia por envolvimento com o tráfico. Como se esta fosse uma justificativa.
LOC1: Para se ter uma noção, a ONG Justiça Global denunciou os conflitos na favela que contou mais de 50 mortos. Mas não houve repercussão nos meios de comunicação.
LOC1: Para Maria, um problema é a visão consolidada pela mídia comercial sobre o que é e como funciona a favela. Cria o ponto de vista de que quem mora na favela tem culpa de mazelas da sociedade como a falta de segurança pública. Quando esses moradores são, na verdade, privados de todo tipo de serviço público como saúde, educação de qualidade e, claro, segurança.
SONORA 3:
LOC2: Não é à toa que ouvimos Maria hoje. É que a população da Maré e de todas as comunidades no Brasil devem saber dizer o que querem para que os problemas de toda a sociedade sejam resolvidos.
SONORA 4:
Hoje não é fácil quem mora na favela falar. Até porque a polícia oprime, os bandidos oprime, os meios de comunicação comerciais, que sào ligados a altos interesses econômicos oprimem também. Mesmo manifestações de rua, passeatas, tem o clima tenso, no ar o medo de mais morte. Mas é por isso que veículos comunitários, livres e sem fins de lucro tem mais é deixar rolar a voz das comunidades.
Alagados, Trenchtown, Favela da Maré ...(pulsar)