LOC 1: Ô ABRE ALAS, QUE EU QUERO PASSAR. Ô ABRE ALAS, QUE EU QUERO. PASSAR.
Técnica: Barulho de gente batendo na porta.
LOC 2: QUEM É?
Técnica: Música de suspense / abre a porta/
LOC 1: JÁ ESTOU PASSANDO. PASSANDO POR AQUI. JÁ ESTOU PASSANDO. PASSANDO UMA CONTA AQUI... TOMA! 50 REAIS
LOC 2: QUÊ? O QUE EU FIZ? QUE MULTA É ESSA?
LOC 1: COMETEU INFRAÇÃO GRAVE. CANTOU UMA MÚSICA DA CULTURA BRASILEIRA NO CHUVEIRO.
LOC 2: GENTE! UMA MÚSICA TÃO CANTADA NO CARNAVAL. Ô ABRE ALAS QUE EU QUERO PASSAR...
LOC 1: É MUITO FOLIÃ MESMO, NÉ ? 100 REAIS!
LOC 2: ISSO É UM ASSALTO?! MOÇO! ASSIM VOCÊ ME DEIXA NUA COM A MÃO NO BOLSO!
Técnica: Música - O ECAD VAI TE COBRAR.
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Loc 3_Esta cena parece absurda, mas não é tão distante do vem acontecendo com o carnaval que faz a alegria de milhares de foliões.
Loc 4_No Rio de Janeiro, blocos carnavalescos que se apresentam pelas ruas andaram recebendo faturas do ECAD - Escritório Central de Arrecadação e Distribuição. Blocos que fazem um carnaval gratuito, sem a cobrança de ingressos.
Loc 3_ É o caso do Cordão da Bola Preta, que levou aproximadamente um milhão e meio de pessoas para pintar e bordar na Avenida Rio Branco, Centro do Rio.
Loc 4_Pedro Ernesto, presidente deste bloco, reconhece a credibilidade do ECAD, que teria a função de defender o direito dos autores das músicas. No entanto, aponta críticas aos critérios de cobrança.
Sonora 1 diferencia das cobranças_ eventos fechados e abertos
Loc 3_ A proposta do ECAD foi cobrar cinco reais por folião que acompanhasse o bloco de carnaval. Vamos fazer as contas do Bola Preta. Cinco reais vezes um milhão e meio... A dívida seria de sete milhões e meio de reais, isso contando apenas o carnaval de 2010.
Sonora 2_ Pô da onde que a gente vai tirar esse dinheiro...
Loc 4_ Engana-se quem acha que este é um problema é enfrentado apenas por blocos consagrados como o Cordão da Bola Preta. Na verdade, essa mercantilização do carnaval de rua acaba também com o confete e a serpentina de quem é iniciante da folia. Essa política dificulta o surgimento de novas agremiações.
Loc 3_ O Bloco Folião Ponto Com, por exemplo, costumava se apresentar no Rio e em Niterói, cidade vizinha. As imposições do ECAD, entre outras burocracias da prefeitura, acabaram com a brincadeira no bairro Ipanema, na Zona Sul da cidade. Rodolfo Furtado conta pra gente.
Sonora 1,27
Loc 4_ Rodolfo explica ainda que a intenção do grupo é levar a alegria do samba, que já era compartilhada entre amigos em festas particulares, para o público em geral. O presidente do bloco dá o tom da festa.
Sonora_ 3 minutos
Loc 3_ Quando fevereiro passa, a batucada do Folião Ponto Com continua firme. Nos outros meses todo o esforço do grupo se volta para trabalhos sociais. Eles costumam doar cestas básicas para crianças com problemas neurológicos, além de serem doadores de sangue. Fazem isso há sete anos. Nota-se que esse tipo de iniciativa não tem nada ver com as cifras cobradas pelo ECAD.
Loc 4_Sobre a valorização do trabalho dos autores, Pedro Ernesto, do Bola Preta, ressalta que o trabalho dos blocos não é dissonante com a proposta, já que contribui com a divulgação das canções.
Sonora_ divulgação 3 minutos e 3
Loc 3_ Na década de 90, o carnaval de rua do Rio de Janeiro foi praticamente extinto. Nos último anos, com esforço, talento e boemia, os blocos de carnaval foram essenciais no incentivo à permanência dos cariocas na cidade. E até mesmo para a vinda de turistas.
Loc 4_ A custo de quem essa política transforma tudo em mercadoria? Qual é o verdadeiro valor do carnaval? Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar
Técnica Some a locução e entra a música...
( a beleza de ser um eterno aprendiz. Eu sei que a vida podia ser bem melhor e será. Mas isso não impede que eu repita. É bonita, é bonita e é bonita.)
MARCHINHAS (sobe som)
Ô ABRE ALAS QUE EU VOU TE COBRARÔ ABRE ALAS QUE EU VOU TE COBRAREU SOU O ECAD NÃO POSSO NEGAREU SOU O ECAD E VOU TE COBRAR
NÃO POSSO MAIS CANTAR SOBRE O ZEZÉO ECAD NÃO QUER, O ECAD NÃO QUER
O DINHEIRO QUE ECAD COBRAELE NÃO REPASSA NÃOO ECAD ME DEIXOU À MINGUAE COMPOSITOR NA MÃO