LOC_1 : Quem já não ouviu falar que grandes empresas trazem crescimento econômico para países ou regiões pobres? Dois casos no estado do Rio de Janeiro mostram que esse dito progresso nem sempre garante o melhor para todas as partes envolvidas.
LOC_2 : Na Baía de Sepetiba, os prejuízos causados com a instalação da Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA) já foi tema, inclusive, de audiências públicas no estado e em Brasília. As denúncias foram feitas, principalmente, por pescadores. Estão entre as acusações o envolvimento da empresa com milícias e o desrespeito às leis ambientais e trabalhistas.
LOC_1: Já em Magé, a cinqüenta quilômetros da capital, as denúncias são contra irregularidades no Projeto GLP da Petrobras. As terceirizadas GDK e Oceânica tocam as obras do pólo petroquímico da estatal na Baía de Guanabara desde 2007.
LOC_2: Resta saber a custo de quê e de quem esses grandes empreendimentos garantem seu funcionamento e altos lucros. A economista Karina Kato, do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS), fala quais características aproximam a atuação das duas empresas.
SONORA_Karina : terceirização - desrespeito às populações locais - e às leis.
LOC_1: Além de gastar menos com mão-de-obra pagando salários baixos aos trabalhadores, essas empresas também contam com incentivos públicos: doação de terrenos, energia mais barata e isenção fiscal. Karina Kato enumera as possíveis motivações para essa contribuição.
SONORA_Karina: (os investimentos que se explicam por corrupção, clientelismo, proximidade com empresários, até eleitoreiros. Só se divulgam a coisa boa... não se fala dos 8 mil empregos perdidos com a pesca, do desmatamento, fica oculto.)
LOC_2: O canteiro de obras da siderúrgica, formada pela alemã ThyssenKrupp e pela Vale, por exemplo, fica em uma Área de Preservação Ambiental, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. Foi embargado pelo Ibama em 2007, mas as obras continuaram. Uma ação civil pública instaurada contra a TKCSA no Ministério Público do Trabalho diz respeito à situação irregular de 120 chineses no Brasil.
LOC_1: Mesmo desrespeitando leis ambientais e trabalhistas, essa transnacional recebe financiamento federal de R$ 1,48 bilhão via BNDES. O trabalho de cerca de oito mil pescadores foi prejudicado na região, segundo dados da Federação dos Pescadores Artesanais do Rio, a Fapesca . O pescador Ivo Soares aponta mudanças na Baía de Sepetiba:
SONORA_Ivo :
LOC_2: A construção dos gasodutos da Petrobras também inviabiliza a atividade de pesca artesanal em Magé. Esse empreendimento é uma das intervenções do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, na Baía de Guanabara.
LOC_1: Há outro ponto em comum entre os casos TKCSA e GLP Petrobras. Pescadores das regiões têm recebido ameaças de morte. Luis Carlos da Silva, de Sepetiba, teve que sair do estado do Rio. Ele, que é cadeirante, está sendo acompanhado pelo Programa Nacional de Proteção de Defensores do Direitos Humanos.
LOC_2: Paulo César Santos, de 44 anos, foi assassinado seis horas depois da interdição das obras em Magé. O crime aconteceu após denúncias feitas pela Associação dos Homens do Mar (Ahomar). Paulo César era tesoureiro da Associação.
LOC_1: Vestidos de preto, os pescadores da Ahomar, apoiados por entidades e movimentos sociais, realizaram ato público dias depois da morte de Paulo César, em frente à Petrobras. Uma das pescadoras, que preferiu não se identificar, fala sobre as ameaças:
Sonora_pescadora na manifestação:
LOC_2: Empreendimentos, como o da Companhia Siderúrgica do Atlântico e do projeto GLP, da Petrobras, colocam em risco o real desenvolvimento econômico quando não consideram os modos locais de vida e a preservação do meio ambiente.
LOC_1: As denúncias contra esses empreendimentos já chegaram às esferas estadual e federal. Recentemente, um relatório incluindo os casos foi entregue à Anistia Internacional. Para a organização não-governamental britânica, a atuação das empresas viola os direitos humanos.