Loc 1_ Década de oitenta, explosão da Aids no mundo. As pessoas achavam que a epidemia atingiria apenas os homossexuais. Principalmente homossexuais do sexo masculino. A idéia, que gerou muito preconceito, já não se sustenta. A cada dia, desde o surgimento da contaminação pelo HIV, aumenta o número de heterossexuais infectados. Inclusive, cresce o número de mulheres portadoras do vírus.
Loc 2_ De acordo com dados do Programa das Nações Unidas, UNAIDS, o número de pessoas vivendo com HIV no mundo continua a crescer. Chegando a estimados trinta e três vírgula quatro milhões de pessoas. A falta de uma política planejada de prevenção provocou a mudança de perfil da população contaminada, além do aumento de portadores do vírus.
Loc 1_ A epidemia vem diminuindo proporcionalmente entre os homens e aumentando entre as mulheres, que já representam metade das pessoas vivendo com HIV no mundo. Para Maria Luísa de Oliveira, as desigualdades de gênero foram determinantes no avanço da AIDS entre as mulheres. Ela faz parte da Rede Feminista de Saúde, que atua em políticas de direitos sexuais e reprodutivos.
Sonora_01_Maria Luisa
Loc _2 Em dois mil e oito o Ministério da Saúde e a Secretaria de Políticas para Mulheres lançou o Plano Integrado de Enfrentamento à Feminização da Aids e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis. Maria Luisa reconhece a importância desta ação, mas considera que o plano não funciona plenamente. Para ela, ele está muito restrito à esfera federal, não chegando a estados e municípios.
Loc 1_ Diariamente, cerca de quatorze mil pessoas são infectadas pelo HIV no mundo. Vinte milhões já morreram. Se não houver mudanças de procedimentos, até 2010, a doença irá deixar 25 milhões de crianças órfãs.
Loc 2_A vida de Micaela Syrino, de 21 anos, está dentro dessas estatísticas. A Jovem negra, moradora de São Paulo, perdeu os pais ao seis anos, ambos mortos pela Aids. Ela também é portadora do vírus. Sua contaminação se deu de forma vertical, isto é, contraiu da mãe durante o parto.
Loc 1_ Micaela não sabe como seus pais contraíram a Aids. Ela passou parte da infância e toda adolescência numa casa de apoio para portadores do vírus ou órfãos de pais com Aids. Aos 18 anos, como não poderia permanecer no local, mudou-se para a casa da tia.
Loc 2_ A jovem conta que sempre foi tida como a coitadinha. Os pais, ela conta, eram considerados culpados. Micaela passou a participar da discussão política em relação à Aids. Como mulher negra sabe que sua militância é importante para o combate a epidemia e ao preconceito. Micaela, nos conte um pouco sobre sua história.
Sonora_02_Micaela
Loc 1 _ Micaela estuda artes e é grafiteira. Leva seu trabalho para vários muros da cidade de São Paulo. Seu principal tema são as Mulheres. Nos desenhos pelos muros, muitas vezes, elas aparecem de olhos fechados. Isso tem um significado muito interessante.
Sonora_03_Micaela
Loc 2_ É preciso refletir bastante para não fazer sexo de uma forma desprevenida. Muitas mulheres, ainda hoje, têm dificuldade em negociar o uso da camisinha com os parceiros. Outras consideram desnecessário o uso de preservativos por estarem em relações estáveis.
Loc 1_ Maria Luísa de Oliveira, da Rede Feminista de Saúde, nos conta que é freqüente a ameaça do rompimento da relação por parte dos homens. Muitos chegam a agredir as mulheres. E explica que a violência deixa a mulher mais vulnerável ao HIV e à Aids.
Sonora_04_Maria Luisa
Loc 2_Dados de 2005 da Organização Mundial de Saúde revelam que uma em cada seis mulheres no mundo sofre de violência doméstica. 60% dos casos envolvendo violência física foram cometidos por maridos ou companheiros.
Loc 1_Maria Luísa afirma que a cultura machista faz mal às mulheres e complica a vida de muitos homens, que não usam camisinha por considerar que jamais serão infectados pelo vírus da AIDS. A desculpa para não usar a camisinha é quase sempre a mesma: dizem que incomoda e dificulta a ereção. Também entra aí o mito do amor romântico, em que uma grande paixão seria maior do que qualquer risco.
Loc 2_ Toda pessoa pode pegar Aids se não se cuidar. As estatísticas mostram que a epidemia é um problema de saúde pública e de direitos humanos.
Loc 1_O modelo de desenvolvimento implantado nas duas últimas décadas impôs privatizações. Transformou direitos, como o direito à saúde, em mercado. E as mulheres foram as primeiras a sentirem a falta de políticas sociais.