Técnica: Música do Jornal Nacional
Deu-se início a batalha.
LOC1: No dia 12 de agosto, o Jornal Nacional apresentou uma reportagem que entraria para história da TV brasileira. A notícia, nem tão inédita assim:
LOC2: A acusação: desvio do dinheiro doado por fiéis que deveria ser usado em obras de caridades para veículos de comunicação. A informação foi completada por um ligeiro sorriso do apresentador William Bonner.Entre as emissoras beneficiadas com o desvio, a rede Record. A reportagem segue por mais 10 minutos.
LOC1: Ofendida, a Record não recuou. Utilizando-se da mesmas armas midiáticas, rebateu a denúncia com uma reportagem em seu telejornal. Sobrou para a grandona: desde denúncias sobre o processo de concessão da Rede Globo envolvendo trâmites ilegais até a edição tendenciosa do debate das eleições presidenciais em 89.
LOC2: Engraçado que para os militantes por comunicações democráticas, não há muita novidade. Há tempos que movimentos sociais e estudantes buscam desarmar essas emissoras ao divulgar essas informações, inclusive exibindo o filme Muito Além do cidadão Kane, utilizado pela reportagem da Record.
LOC1: Está aí uma mostra do poder de alcance da mídia comercial. Em uma só noite fez chegar aos lares de milhões de expectadores todas essas informações tão pouco acessadas no dia-a-dia pela população brasileira.
LOC2: Porém, um olhar mais atento pode levantar alguns questionamentos sobre a atuação dessas duas emissoras. Afinal de contas, porque essas informações apenas são divulgadas no momento em que uma das emissoras é atacada pela outra?
LOC1: Entrevistado por Denise Viola num programa de rádio ??? o jornalista Gustavo Gindre, do coletivo Intervozes, disse que essa briga representa não apenas uma disputa por audiência. Ele lembra que há também os interesses políticos em jogo, pondo em pé de guerra tanto os lobbys que existem a favor da Globo quanto a favor da Record e da Igreja Universal.
LOC2: O jornalista e militante do mesmo coletivo, Rodolfo Viana, está de acordo com a opinião de Gindre. Ele também vê as reportagens como uma disputa de interesses particulares e atenta para o foco de toda essa discussão.
SONORA Mesmo nesse caso, a questão central é que poucas pessoas questionaram o uso das concessões na defesa de interesses individuais. Devemos centrar nossa crítica nos meios utilizados. A arena é da sociedade brasileira, não é só globo record mas existem casos menos explícitos.
LOC2: Rodolfo lembra que diferentemente dos jornais impressos que são empresas privadas, as emissoras de rádio e TV são concessões públicas e por isso deveriam servir aos interesses coletivos.
SONORA (O problema é que são concessões públicas e justamente por isso não devem servir a interesses privados. Por isso, suas funções devem respeitar preceitos definidos por lei. Um dos fatores importantes é servir pra informação, difusão cultural, por serem concessões públicas deveriam ser guiados por interesses gerais da população mas são guiados por interesses privados que se utilizam das concessões, difundido o interesse privado. São um dos nós a serem superados para temos uma efetiva democratização da comunicação.)
LOC1: Uma boa oportunidade para discutir as concessões de radio e TV no Brasil é a Primeira Conferência Nacional de Comunicação que será realizada no início de dezembro em Brasília. Fernando Paulino, da direção do Sindicato de Jornalistas do Estado do Rio explica a importância da Conferência para esse debate.
SONORA
LOC2: Mas parece que essa discussão da função social das concessões incomoda os setores que as detém. Exemplo disso foi a saída de quase todo setor empresarial da Comissão Organizadora da Conferência.
LOC1: Não interessa quem está certo ou errado nessa história. Entre mortos e feridos, que se salve a democratização dos meios de comunicação. O importante mesmo é aproveitar esse episódio para reafirmar que tanto a Globo quanto a Record são concessões públicas e, portanto, devem estar a serviço da população brasileira.