Sonora0: Áudio de Lula
Loc2: Como podemos ouvir nessa breve frase do presidente Lula, é promessa que o governo realize esse ano a Primeira Conferência Nacional de Comunicação.
Loc1: As conferências são um processo que começa com a reunião de grupos pequenos nas cidades. Depois, segue para regiões, estados e, por fim, Brasília. Na capital federal idéias devem ser transformadas em políticas públicas. O processo já aconteceu, por exemplo, para organização das cidades e sobre os direitos de Gays, Lésbicas e Simpatizantes.
Loc2: Portanto, uma Conferência deve servir de atalho para que idéias capazes de tornar a comunicação no Brasil mais democrática se transformarem em realidade.
Loc 1: De acordo com Carolina Ribeiro, do Intervozes, depois da declaração de Lula à imprensa, já no dia 3 de fevereiro, representantes da Comissão Pró-Conferência Nacional de Comunicação se reuniram com assessores do governo. Estes pediram diálogo com a sociedade para construção dos encontros. Carolina comenta alguns dos encaminhamentos dados pelos movimentos participantes:
Sonora1 : Carolina Ribeiro, Intervozes
Loc 2: A militante do Intervozes lembrou que empresários do ramo também devem participar das discussões. Afinal, interesses econômicos estão em jogo. Sobre o grupo de trabalho que organizará o evento Carolina contou que os movimentos sociais sugeriram o seguinte: 15 representantes da sociedade civil organizada, 10 componentes do poder público e 5 empresários. A justificativa é a representatividade de cada um dos seguimentos.
Loc 1: Apesar de ainda não ter sido publicado o decreto presidencial que convoca a conferência, o orçamento do ano passado reservava 8,5 milhões para realização de todas as etapas. Esse é mais um fator positivo para realização. E Carolina indica outros:
sonora 2: Carolina Ribeiro, Intervozes
Loc 2: Entre os movimentos sociais, o Intervozes em que participa Carolina Ribeiro, não é o único que acredita agora na realização da conferência. Pía Matta, da Associação Mundial de Rádios Comunitárias, Amarc, fez questão de falar a Lula sobre a situação das rádios. Ela se encontro com o presidente junto a outros representantes do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial, em Belém.
Loc2: Pía disse a Lula que é preciso haver três setores de comunicação no país: pública e privada, que já existem, e comunitária ou cidadã. E pareceu contente com o comprometimento de Lula em relação a Conferência.
Sonora 3: Pía Matta, Amarc
Loc1: Pía Matta lembrou ainda que comunicação não é um problema apenas dos comunicadores, mas de todos os cidadãos. Ela pede que depois do compromisso do presidente a sociedade não perca a oportunidade de negociar seus interesses.
Sonora 4: Pía Matta, Amarc
Loc2: E vamos todos construir a conferencia!
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Loc 01_ O Centro de Estudos e Práticas de Educação Popular, CEPEPO, é uma ONG que trabalha pelo fortalecimento dos movimentos sociais em Belém. Durante o Fórum Social Mundial o centro de estudos funcionou como o laboratório de comunicação compartilhada.
Loc 02_ O ano todo, o Cepepo produz vídeos, documentários, novelas e oficinas de áudio-visual que são oferecidas à jovens de movimentos sociais, ONGs e instituições que tenham um trabalho político. A produtora do CEPEPO, Vanessa Silva, avalia o Fórum foi uma experiência muito interessante, pois passaram a compartilhar a comunicação de forma mais ampla.
Sonora A: Vanessa Silva, Cepepo
Loc 01_ Segundo Vanessa, a proposta desses vídeos é trabalhar a informação de forma mais plena, para tentar desconstruir o que vem sendo veiculado, erroneamente, na grande mídia.
Loc 02_ A produtora avalia que FSM ampliou as possibilidades de compartilhar conhecimentos com outros movimentos sociais e a criação de projetos que vão continuar no pós-fórum.
Sonora B: Vanessa Silva, Cepepo
Loc 01_ A produção sobre o FSM do CEPEPO está disponível no You tube, no site ciranda.net e no wsftv.net.
Loc 2_ Vamos repetir para você anotar: ciranda.net e no wsftv.net
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01_vinheta
Loc3: E Girando para além do Fórum em Belém e dos compromissos assumidos pelo governo de Brasília, passamos por outros cantos do país onde a sociedade tem muito o que dizer.
Loc4: Lá embaixo no mapa, em Santa Catarina, a rádio Campeche, de Florianópolis, esperou 8 anos para falar de proteção ao meio ambiente, entre outros temas, com autorização do governo. É o que conta Glauco Marques, um engenheiro eletricista que divide seu tempo de trabalho remunerado com o voluntariado na rádio. Ele comenta como as coisas funcionam na Campeche FM.
Sonora 5: Glauco Marques ok
Loc3: Segundo Glauco, a programação antes da legalização era experimental e no “banho maria” da espera pelos documentos, muitos desistiram. Mas o pessoal segue sendo convidado a participar.
002 Vinheta
Loc4: Notícias da comunidade, músicas e campanhas estão na programação comandada por um grupo de cerca de 15 pessoas. Glauco entrou na organização da rádio no segundo ano de luta pelo registro. Hoje faz parte da diretoria e participa de programas que não são gravados, mas podem ser ouvidos durante todo o dia pelo pessoal na praia de Campeche, com cerca de 16 mil residentes, e por moradores de bairros próximos.
03_Vinheta
Loc3: Mora por ali e quer participar? É só chegar!
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Loc 1 : E por falar em participação os ouvintes da revista devem lembrar do nosso amigo Davi Moreno e da Alternativa FM. A rádio é o xodó da Comunidade de Engenho Maranguape, no município de Paulista, região metropolitana de Recife. Foi lá que o pessoal fez a polícia federal se perder no bairro para não achar a emissora.
Loc2: Em maio do ano passado as notícias não eram as melhores: a documentação da rádio seria arquivada pelo Ministério das Comunicações. Mas a comunidade, com a mão na massa, encontrou uma forma de dobrar a burocracia e pedir de novo para funcionar legalmente. Conta aí Davi Moreno:
sonora 6: Davi Moreno, Alternativa FM
Loc 1: Mostrar a cara, além da voz, virou coisa chique no Engenho Maranguape. No blog da rádio, arcafm.zip.net, é possível ver os vídeos do pessoal. Anote e acesse arcafm.zip.net . De acordo com Davi, apesar da comunidade ser bem pobre, a internet chega por lan houses e o povo tem gostado muito de se ver nesse meio de comunicação livre que ainda é a internet. E a moda de documentação pegou de tal jeito que cinema de rua e tv comunitária viraram projetos para o futuro.
Loc 2: Mas quem olha para as novas idéias e pensa que a rádio está em baixa por lá se engana! Um programa esportivo tem movimentado a região, ouve só.
sonora 7: Davi Moreno, Alternativa FM
Loc1: É mais um goooool da Alternativa FM e do pessoal de Engenho Maranguape!
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Loc3: O nosso Giro Comunitário fica por aqui. Mas você sempre pode entrar em contato com a gente pelo famoso e-mail revista@agenciapulsar.org.
Loc 4: Nunca ouviu falar? Pois tome nota e escreva pra gente. Queremos que nos conte a notícia da sua região. É revista@agenciapulsar.org.
UMA VOZ NA MULTIDÃO
Loc 1_ Da janela de sua casa, Dona Maria Eny olha para o paraíso chamado Praia do Pesqueiro, distante onze quilômetros do município de Soure, na Ilha do Marajó, Pará. Nos braços, o pequenino Pedro: o mais novo de sete filhos.
Loc 2_ A casa é semelhante às outras da pequena Vila do Pesqueiro: feita em madeira, fica a um metro e meio do chão, por causa da maré alta da praia de rio, que recebe influência do Oceano Atlântico.
Loc 1_ Na parede, imagens de santos católicos dão a dica sobre a personalidade de Dona Maria Eny. Muito religiosa, nunca deixa de ir à festa do sírio, tradicional no Pará.
Loc 2_ Pedro, inclusive, tem esse nome por ter nascido no dia do santo que guarda as chaves do céu. Ele, ao contrário dos outros seis filhos, não nasceu da barriga de Dona Maria Eny. É o filho do coração, como ela mesma define.
Sonora 1_ Ela conta como ganhou o Pedro
Loc 1_ De quinze em quinze dias, Dona Maria Eny leva Pedro a Belém, já que as unidades de saúde em Marajó não realizam o tratamento médico. O menino carrega um gesso até a altura do quadril, uma tentativa de consertar o pezinho torto.
Loc 2_A cada viagem, uma batalha para conseguir dinheiro, já que a única renda fixa da família é a soma do Bolsa Família mais o Bolsa Escola: cento e dois reais. O valor não cobre as duas idas por mês à capital, necessárias para o tratamento. Elas custam cento e vinte reais no total.
Loc 2_ Para sobreviver, a família se utiliza do que a natureza da região oferece. Das sementes de andiroba que chegam com a maré, Dona Maria Eny produz o óleo. Outro produto é o carvão, feito da lenha que ela mesma recolhe.
Sonora 2_ fala do trabalho (sonho do emprego)
Loc 1_ Dona Maria Eny já teve um emprego fixo por cinco anos. Nesse período, pôde comprar as coisas de mais valor que tem – uma televisão e um rádio. A casa não possui geladeira. O banheiro é uma fossa seca, e o banho é de bica no quintal.
Loc 2_ Hoje, ela vive um casamento feliz ao lado do marido, que sai quase todos os dias para pescar, suprindo parte das necessidades da família com peixes, caranguejos e camarões. Essa é a base da alimentação na Vila do Pesqueiro, que tem cerca de 350 habitantes.
Loc 1_Mas do primeiro casamento, Dona Maria Eny não guarda boas lembranças. Ela casou pela primeira vez quando tinha apenas 15 anos. Seu marido, bem mais velho, sofria de alcoolismo.
Sonora 4_ conta das agressões
Loc 1_Dona Maria Eny cursou até a sexta série, mas alimenta o sonho de voltar a estudar. Uma mulher sonhadora, sábia e solidária, que não deixa de declarar seu amor pelo Brasil, que ela só conhece pela TV, pois nunca saiu da região.
Loc 2_ Essa é uma voz na multidão, direto da “terra dos búfalos”. Dona Maria Eny leva uma vida dura, que a tornou uma mulher forte e corajosa – dona de uma experiência bem maior do que caberia em seus 40 anos de idade.